Segundo o filósofo polonês Zygmunt Bauman, a modernidade em sua forma mais consolidada exige a abolição de dúvidas e incertezas. É necessário um controle sobre a natureza, uma hierarquia burocrática e mais regras e regulamentos para fazer os aspectos caóticos da vida humana parecerem organizados e familiares.
Se assumirmos ler Bauman, desses tempos apocalípticos, o resultado é um estudo oráculo.
Hoje a modernidade, com suas certezas e controles, desaparece como a água entre nossos dedos. Modernidade líquida.
Sobre este assunto um tanto áspero, 6 dos artistas participantes do Salão falam conosco de suas obras.
Começamos nosso tour com Érica Storer e seu “RÕM-ÓFICE”. Um vídeo que por jocoso não nos resulta menos dramático. A referência e a angústia para a produtividade à custa de qualquer parco termo de fadiga humana. O tratamento do comediante e a disposição absurda dos elementos tornam este trabalho um deleite para a reflexão, de repente.
Igualmente surpreendente e profético é o vídeo “Home Office”, de Renata Miranda. Feito algum tempo antes da terrível tragédia em Beirute, ele prevê explicitamente o evento. A arte é sempre um presságio.
E as certezas da modernidade são desalojadas a cada passo, seja da configuração de demolidas emblemáticas, como no caso das “Pinturas para peito” de Gabriela Mutti, ou dos tecidos de Marcel Diogo.
Mutti tira a sacralidade do uniforme militar, que produz respeito, medo e obediência, e nos constrói algumas decorações fantasiosas deste mundo ferido por tantas desigualdades e controles.
Marcel Diogo, faz algo homólogo, as suas pinturas rompem o espaço emocional, para assinalar sem ambiguidades, a desagregação dos corpos repressivos.
E nessa mesma tensão emocional, como um jogo de espelhos infinitos, Amador e Jr Segurança, nos convidam a entender que o poder da modernidade está erradicado em vigiar e castigar.
Performance online
, 2020. 5 min
Por fim, temos uma bela escultura, ou poema objeto, de Diogo Duda, “Something around eleven euros and thirty-nine cents”.
O país da banana, a moeda como fruto suculento do capital e seus mecanismos de ansiedade e fome.
O poder é uma patologia, nos diria Foucault.
Objeto, 2020. 13 x 13 x 13 cm
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Essas seis obras nos convidam a perceber essa premissa, mas a partir da saúde emocional. Na medida em que se produz a consciência da patologia, neste exato momento, é que se começa a curar.
Morella Jurado