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2º Salão de Nacional de Pequenos Formatos de Britânia

A máscara.

Em 1319, Haiku da Anatólia, sublinhou que "A lua vive nosso reflexo" - Embora o poeta sufi nunca tenha imaginado a ressonância de suas palavras neste presente tão distante, este breve poema hoje se tornou mais pontual e confiável do que nunca.

Estamos em uma realidade onde quase a totalidade do humano vive imerso em um continente de espelhos. A comunidade tangível, de corpos convergindo na tela urbana, já não existe mais; desvaneceu-se nas redes sociais, nas notícias verdadeiras ou falsas, que não sabemos mais se é verdadeiro ou falso. E no devir do compromisso epiléptico: nada tão frágil como o amor de hoje, nada tão inconsistente como o aparente discurso do sucesso e a alegria projetada.

Sobre isso, falaram 8 dos artistas participantes desta edição do Salão Mabri.

“Pose (Fera nenen)”, de Emilliano Freitas, nos comove até a dor. Um desenho feito em uma folha de caderno escolar; e os parques solitários e as bolas sem utilização.

Sem risadas, sem amarelinha.

Em uma folha de caderno pautada de aspecto amarelado envelhecido, o desenho feito em grafite com a figura de uma criança de cabelos curtos é vista de corpo todo, mas não possui olhos, nariz ou boca, vestem sapatos e cueca, a figura da criança se apoia em uma linha central do desenho e em seu entorno aparecem elementos que parecem uma colcha sobre a ponta da cama e outros tecidos pendurados acima da criança que faz pose.
Detalhes da obra

Um pouco mais adiante, recorremos ao jocoso dispositivo apresentado por Ismael Monticceli, “Still keep smiling”, (Horizonte da expectativa invisível). Execução impecável de felicidade forçada, autoajuda, métodos comportamentais de atração do sucesso e positividade constipada.

"Making Off", de Leandra Espírito Santo, consegue nos impregnar de histeria coletiva ao se enquadrar nos estereótipos de beleza impostos pelas redes. É uma “porrada” no ego.

No vídeo vemos uma sequência de imagens fotográficas de uma mulher branca de cabelos pretos liso e com franja, ela usa uma camisa branca e máscaras brancas com expressões diferentes, na sequência vemos a mulher do peito para cima em um fundo branco penteando o cabelo com um pente azul repetidamente de forma mecânica.

E o rosto é o que menos importa. Na pornografia, o rosto humano nunca é necessário, pelo contrário, é contraproducente para o exercício da objetividade. Nessa sociedade colonizada pela pornografia, Geoneide Brandão nos mostra uma ampulheta que não importa para onde caia o pozinho. O contínuo é o esfregar de dois corpos, justo antes do que aconteça. Somos nós que completamos o ato. O movimento ainda não aconteceu. É o lugar da saudade.

Pintura em óleo sobre papel onde dois corpos femininos se entrelaçam no centro da composição em um encontro sexual, onde vemos apenas os dois corpos da cintura para baixo.  As cores são quentes, o fundo é de um vermelho vibrante e os corpos na parte central variam entre tons de vermelho e amarelo que ora se misturam.
Detalhes da obra

Nesta fase da leitura, nos perguntamos: será que todos os participantes entraram em acordo para mostrar a mesma preocupação desde diferentes arestas? Os criadores são aqueles que carregam o pulso dos tempos, aqui se confirma.

Para mostra, outro botão*. Desta vez, da mão da artista plástica Beth Sousa. Trata-se de uma fotografia intervencionada, “Assistindo à Live da Sobrevivente”. Uma luz de Rembrandt acaricia essas duas mulheres vestidas de fetiche. Uma luz bem conhecida de todos, a televisão. A obra é um retrato da desolação causada pelo movimento de si mesmo.

*Refrão tipico do idioma espanhol cujo significado denota que não é necessário mostrar ou explicar tudo em detalhes, mas que com um exemplo é suficiente.

De acordo com Cassirer, O homem não pode escapar de suas próprias realizações, ele não tem escolha a não ser adotar as condições de sua própria vida; ele não vive mais apenas no universo físico, mas no universo simbólico, onde a linguagem, as cerimônias, a arte e a religião constituem suas partes, elas formam os vários fios que tecem a teia simbólica na trama complicada da experiência humana.

O humano é o único animal que simboliza.

Sallisa Rosa grita, sou um bicho.

E nada escapa mais dessa fronteira antropológica do que este vídeo.

Ela constrói a diferença epistemológica entre nós e qualquer outro ser vivo na terra.

E em que erradica essa diferença? Na capacidade de simbolizar a realidade.

O vídeo é composto por uma série de fotografias onde vemos a artista, uma mulher com indigena de cabelos longos em várias cenas: usando máscaras de oncinha de plastico, comendo pequi com a mão pintada de rosa; posando ao lado de estátuas de dinossauros; segurando espelhos; entre outras imagens.

Keila Serruya, assume essa condição e levanta esta bandeira como única forma de não adoecer.

“O sistema imunológico é a cultura Doente eu não fico" Ela se autorretrata, o sangue gelificado e se torna uma deusa. Cria a sua própria vacina, para se defender deste fim do mundo.

Vemos no vídeo a imagem de uma mulher jovem, em um fundo preto, seus cabelos estão divididos ao meio com duas tranças curtas uma de cada lado da cabeça, vemos seu corpo dos ombros para cima, ela está coberta por glitter prata do pescoço para baixo, seu rosto está limpo no inicio do video e ela usa brincos de argola. Na sequência do vídeo um líquido viscoso e vermelho escorre de sua cabeça e começa a borrar todo seu corpo, ao fim desta sequência close na mão parada coberta pelo líquido, ouvimos ao fundo o hino nacional. A segunda parte do vídeo a mesma mulher aparece desta vez apenas coberta de glitter pra e toca samba ao fundo.

Um discurso equivalente é o de Mayara Ferrão, que nos diz: “Espiritualidade é a tecnologia que cura”.

Ferrão nos chama a revisitar com urgência o que é verdadeiramente humano, o que nos torna eternos.

Esse eco que vem de tão longe, - “A Lua Vive o Nosso Reflexo” - são teimosas e antigas palavras que ainda nos dizem que a realidade só existe quando está relacionada à nossa imagem e semelhança.

O vídeo mostra quatro sequência, em todos elas vemos um ser humano vestido com um capuz de palha da costa que encobre seu rosto e se prolonga até a cintura, todas as sequências apresentam paisagens ao ar livre na natureza e durante o dia em espaços como: no lago, no mar, no rio e na terra; em todas as cenas a pessoa executa movimentos como uma dança.